O ato da mudança em si ou o fato de ter que planejar uma nova vida não me causaram surpresa, todavia me vi em uma situação um tanto quanto complicada e que requer algum detalhamento para que possa ser compreendida.
- São Carlos, onde estudo, fica a aproximadamente duas horas de carro de Valinhos, onde está localizado o escritório da Toradex.
- Em algum ponto entre as duas cidades também está localizada a cidade de Americana, onde reside o meu pai.
- Na minha condição de estagiário, as únicas obrigações restantes para com a universidade seriam as horas de estágio - 180 horas no total - e a apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso.
- Meu projeto de TCC tem um caráter de automação para o qual minha presença seria necessária no laboratório eventualmente e, portanto, meu vínculo com a cidade de São Carlos haveria de durar até o final do semestre.
- O estágio requer 30 horas semanais, portanto escolhi trabalhar de terça a quinta em tempo integral e às sextas-feiras somente para complementar as horas. Assim, eu teria 3 dias e meio disponíveis para dedicar ao TCC, salvo exceções.
A partir desta situação na qual eu me encontrava, surgiu o questionamento:
Onde morar?
Com ao menos 3 dias e meio da semana dedicados ao estágio, não parece muito difícil a escolha de morar em Valinhos. No final, foi esta a decisão que tomei, porém antes de chegar a ela levantei alguns questionamentos e soluções alternativas foram esboçadas: pensei em continuar morando em São Carlos, já que eu dispunha de um apartamento mobiliado e cujo contrato de aluguel estava acertado há tempos e, além disso, também pesava o fato de que eu teria acesso fácil ao laboratório do TCC. Quanto a Valinhos, cogitei me hospedar na casa do meu pai de terça a sexta.
Após pensar por algum tempo, percebi que esse plano teria um custo elevado, senão financeiramente, fisicamente. Eu precisaria viajar toda terça-feira de madrugada para Valinhos e durante a semana, de Americana para Valinhos e vice-versa, percurso que demora até duas horas pra ir e duas pra voltar. Além disso, se em algum final de semana eu quisesse ficar em Valinhos, ou mesmo durante a semana eu estivesse cansado e desejasse pernoitar, isso não seria possível.
Fiquei mais inclinado ainda a fixar residência em Valinhos quando surgiu a possibilidade de dividir apartamento com outros dois novos integrantes da Toradex, que também vinham de São Carlos e que embora não fossem meus conhecidos, eram pessoas em quem eu confiava; além disso, toda a mobília do meu apartamento seria transportada para Valinhos com um custo dividido por 3 pessoas. Quanto a São Carlos, eu poderia me hospedar na república de alguns amigos durante os finais de semana, assim resolvendo a questão do TCC.
Após pensar por algum tempo, percebi que esse plano teria um custo elevado, senão financeiramente, fisicamente. Eu precisaria viajar toda terça-feira de madrugada para Valinhos e durante a semana, de Americana para Valinhos e vice-versa, percurso que demora até duas horas pra ir e duas pra voltar. Além disso, se em algum final de semana eu quisesse ficar em Valinhos, ou mesmo durante a semana eu estivesse cansado e desejasse pernoitar, isso não seria possível.
Fiquei mais inclinado ainda a fixar residência em Valinhos quando surgiu a possibilidade de dividir apartamento com outros dois novos integrantes da Toradex, que também vinham de São Carlos e que embora não fossem meus conhecidos, eram pessoas em quem eu confiava; além disso, toda a mobília do meu apartamento seria transportada para Valinhos com um custo dividido por 3 pessoas. Quanto a São Carlos, eu poderia me hospedar na república de alguns amigos durante os finais de semana, assim resolvendo a questão do TCC.
A nova rotina
Consegui me mudar por completo três semanas após começar a trabalhar e tracei minha rotina pensando que eu não iria toda semana para São Carlos, o que significa que aos finais de semana eu faria tarefas domésticas como lavar roupas, arrumar o apartamento, praticar meu gerenciamento financeiro, dentre outras tarefas. Com o prazo para a apresentação do TCC encurtando, a necessidade de ir para Sanca se tornou rotina; nos poucos finais de semana restantes precisei ir para a casa do meu pai; não sobrou nenhum final de semana para permanecer em Valinhos. Com isso, considero que passei a morar em duas cidades: Valinhos durante a semana e São Carlos aos finais de semana.
Durante a semana, eu acordava às 6 da manhã ou até mais cedo, o que me dava tempo para fazer algo útil além de me arrumar para o trabalho - geralmente alguma análise das minhas finanças ou alguma tarefa do TCC. Das 8 em diante, era foco no trabalho até as 18h. Então, se eu fosse para casa, até que eu acabasse de jantar e descansasse um pouco, já eram cerca de oito da noite, sendo otimista. Se fosse comer fora com alguém do trabalho, o tempo podia se alongar. Além disso, nem toda noite eu conseguia me concentrar no TCC, pois é difícil passar o dia trabalhando em um assunto e continuar com ele após chegar em casa, dia após dia. Algo entre 10 e meia noite era a hora de dormir.
De sexta a terça de manhã as coisas mudavam um pouco. Às vezes eu conseguia uma carona para Sanca e às vezes a ida era de ônibus. Chegando lá o foco deveria ser no TCC, mas dentre os meus defeitos às vezes eu me perdia conversando com alguém ou mesmo mentalmente exausto demais para trabalhar. À noite, provavelmente haveria alguma festa para ir ou mesmo ficar bebendo e conversando com o pessoal da república - é meio difícil ir dormir ou focar no TCC quando o seu quarto é a sala e todo mundo está lá bebendo e conversando. Este é também um ponto de desgaste após um tempo, pois quando você dorme em um canto improvisado, acorda sem saber direito onde está, cansado e com vontade de ir pra casa.
Começando o sábado, se eu estivesse em condições, iria para o laboratório trabalhar, senão ficava na república e tentava trabalhar de lá mesmo. Aí é algo que fica um pouco difícil de explicar, mas em alguns dias as coisas engajavam e eu conseguia render horrores, já em outros dias as horas passavam e a sensação era de permanecer no mesmo lugar. Se os embalos de sábado à noite ajudassem, no domingo de manhã eu iria andar de skate; em caso contrário, eu iria à tarde. O resto do dia era de trabalho.
Segunda-feira eu me via obrigado a passar o dia no laboratório, já que era o único dia que me restava para ter a ajuda do mecânico do departamento. Mesmo tendo a sorte de o mecânico ser muito competente e parceiro, ainda assim as coisas andam a passos de tartaruga quando é um dia por semana. Voltando para a república, geralmente ficava acordado até muito tarde para então madrugar e ir direto para o trabalho em Valinhos, de carona. Teve dia que eu cheguei a dormir somente duas horas e, até agora não sei muito ao certo como consegui ir até o fim.
Saúde em jogo
Com pouco sono, muito trabalho, a pressão autoimposta porém crescente de entregar um TCC impecável, skate embaixo de um sol de rachar, compromissos sociais extenuantes, gerenciamento financeiro no fio da navalha e uma sensação constante de não saber exatamente onde estou, a vida cobra um preço. Não precisa ser especialista pra perceber que isso não é muito saudável. E eu percebi, com o tempo.
O estresse consome uma energia extra incrível: você chega em casa e pensa que não pode desperdiçar seu tempo descansando ou com lazer, tão escasso que ele é, então a próxima meia hora é dedicada a uma pequena crise de desespero, até que seja possível retomar o controle. Também notei um aumento na frequência e duração de gripes, resfriados e dor de garganta. Isso não incomoda muito quando a intensidade é fraca, mas se você fica doente com muita frequência em curto período de tempo, o rendimento cai, o estresse aumenta e você se vê novamente remando sem sair do lugar. E depois você olha pra trás e lembra que achava que a graduação era exigente - mas talvez realmente fosse, lá atrás.
Arremate
A grande pergunta que fica é: tudo isso vale à pena? O que pode ser feito para mudar esta situação? E se não há nada a fazer? Mas realmente não há nada a fazer?
Na condição de otimista inveterado e embasado em meu histórico, só consigo ver pela ótica de que tudo isso vale à pena. Talvez daqui a alguns anos eu mude de ideia, mas é o que eu faço hoje que refletirá quem serei no futuro. Além disso, toda essa dedicação não é livre de propósito, não estou fazendo isso só por fazer; quando não há um plano, um objetivo maior, acredito que é hora de parar e mudar de rumo, mas esse não é o caso. Sinceramente não vejo uma saída, mas também não me preocupo muito com isso, já que daqui a dois meses esse desgaste acaba e a qualidade de vida melhora. Brindarei com minha cerveja a um futuro brilhante e cheio de novos desafios. Tudo a seu tempo.
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